A Importância da Preservação Cultural: Guardar o que Somos para que Nunca se Perca
Por Cleverson Schuengue Produtor cultural, artista e diretor da Agência Quintal Criativo Se tem uma coisa que eu aprendi nesses mais de 15 anos vivendo e respirando arte, é que cultura não é só aquilo que está no palco, no cinema ou nas galerias. Cultura é o que a gente vive no dia a dia, nas histórias contadas pelos mais velhos, nos rituais que repetimos sem nem perceber, nos gestos, nas músicas que embalam nossos domingos, nas receitas que passam de geração em geração. Cultura é o que forma nossa identidade, nossa memória e nosso jeito de enxergar o mundo. E quando falamos de preservação cultural, estamos falando justamente de garantir que tudo isso que nos pertence, que nos define não se perca com o tempo.
INVENTÁRIO E PESQUISA SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL LOCAL
Cleverson Schuengue
3/26/20255 min read


O que é patrimônio cultural e por que ele é essencial?
A imagem que você vê na capa desta matéria mostra o que um dia foi o Autódromo de Pinhais. Um espaço que, no passado, acelerava sonhos e movimentava a cidade. Hoje, no mesmo lugar, está um condomínio fechado. O que antes era encontro e velocidade, virou silêncio e muro.
A outra imagem, do corpo da matéria, traz a antiga cerâmica Guilherme Weiss, uma das primeiras de Pinhais. Uma empresa que impulsionou o crescimento urbano e gerou empregos, mas que hoje só sobrevive nas lembranças dos mais antigos e nos registros de quem se dedica a preservar nossa história.
Essas duas imagens já seriam motivo suficiente pra gente parar e pensar: o quanto da história da nossa cidade já se perdeu sem registro? E o que ainda pode ser salvo?
Patrimônio cultural é aquilo que carrega valor simbólico, histórico e afetivo para uma comunidade. Ele pode ser material, como prédios antigos, esculturas, objetos, vestimentas, documentos, livros e acervos físicos. Mas também é — e talvez principalmente — imaterial: são os saberes, os modos de fazer, os festejos, as línguas, as crenças, os ofícios, a arte popular, os cantos, as danças e as tradições passadas de boca em boca.
E por que isso importa?
Porque o patrimônio cultural é uma ponte entre o passado, o presente e o futuro. É ele que nos lembra de onde viemos, que nos ajuda a entender quem somos e que nos oferece ferramentas para construir o amanhã com mais consciência.
Sem memória, um povo se desorienta. Sem identidade, uma comunidade se fragmenta. Sem história, ficamos vulneráveis ao apagamento, à padronização, à perda do que nos torna únicos.
A ameaça do esquecimento
Vivemos em tempos acelerados. A modernidade digitalizou relações, transformou ritmos e impôs uma lógica de imediatismo que, muitas vezes, nos afasta das nossas raízes. O que não é registrado, compartilhado ou impulsionado nas redes parece não existir.
Mas e aquilo que é oral? Aquilo que é do corpo, da vivência, do território? Aquilo que não viraliza, mas que resiste?
A verdade é que muita coisa está se perdendo, simplesmente por não estar documentada. Muitos mestres da cultura popular estão envelhecendo sem deixar registros. Muitas festas tradicionais foram interrompidas. Muitos jovens não conhecem a própria história local. E isso é grave.
Preservar é resistir — e também inovar
Preservar não é apenas guardar em caixas ou vitrines. Preservar é reconhecer valor, registrar com responsabilidade, dar visibilidade e, principalmente, criar condições para que esses saberes sigam vivos e atualizados.
Preservar é fazer com que a cultura tradicional dialogue com o presente, que encontre caminhos para continuar sendo transmitida, compreendida e reinventada. É por isso que a documentação e a pesquisa cultural são tão necessárias. Elas são o primeiro passo para garantir que essas práticas não desapareçam. E, ao mesmo tempo, são ferramentas para reativar o orgulho e o pertencimento das comunidades.
O papel da pesquisa no fortalecimento da cultura
A imagem que você vê na capa desta matéria mostra o que um dia foi o Autódromo de Pinhais. Um espaço que, no passado, acelerava sonhos e movimentava a cidade. Hoje, no mesmo lugar, está um condomínio fechado. O que antes era encontro e velocidade, virou silêncio e muro.
A outra imagem, do corpo da matéria, traz a antiga cerâmica Guilherme Weiss, uma das primeiras de Pinhais. Uma empresa que impulsionou o crescimento urbano e gerou empregos, mas que hoje só sobrevive nas lembranças dos mais antigos e nos registros de quem se dedica a preservar nossa história.
Essas duas imagens já seriam motivo suficiente pra gente parar e pensar: o quanto da história da nossa cidade já se perdeu sem registro? E o que ainda pode ser salvo?
Com o projeto “Inventário e Pesquisa sobre o Patrimônio Cultural Material e Imaterial de Pinhais”, aprovado na Lei Aldir Blanc, buscamos mapear, escutar e documentar as riquezas culturais do nosso território.
É um trabalho feito com recurso modesto, mas com um compromisso imenso. Sabemos que o orçamento não dá conta da dimensão do que precisa ser feito, mas acreditamos que esse primeiro passo pode abrir caminhos, servir de base para políticas públicas, para ações educativas e para fortalecer o senso de identidade da cidade.
Ao longo da pesquisa, realizamos entrevistas com mestres da cultura local, artistas, representantes de coletivos, professores, trabalhadores da arte e da memória. Documentamos suas histórias, suas práticas e seus olhares sobre o que é ser parte dessa cidade tão rica culturalmente.
Esses encontros não são apenas coleta de dados. São experiências de troca, escuta e reconhecimento. E isso já é parte da preservação: dar voz a quem, por muito tempo, foi silenciado.
Preservar é também gerar oportunidades
Um território que preserva sua cultura se fortalece em diversas áreas:
Educação: conteúdos locais passam a fazer parte do currículo escolar.
Turismo: festas, ofícios e saberes ganham visibilidade.
Economia criativa: artistas, artesãos e mestres populares têm mais chances de sustento.
Cidadania: comunidades se sentem pertencentes, valorizadas e ouvidas.
Sustentabilidade: práticas ancestrais dialogam com soluções contemporâneas.
Ou seja: preservar o patrimônio cultural é também gerar desenvolvimento humano e social, é construir uma cidade mais inclusiva, criativa e com futuro.
Um projeto que é só o começo
Sabemos que este projeto, mesmo com todos os seus méritos, não dá conta de tudo o que existe em Pinhais. Mas ele é um marco simbólico: o primeiro passo de um caminho que precisa de continuidade, parcerias, políticas públicas e mais fomento.
Estamos fazendo com o que temos. Mas queremos fazer mais. E por isso é tão importante que a comunidade acompanhe, colabore e abrace essa causa.
Todas as entrevistas realizadas estão sendo gravadas, e vamos publicar, ao longo das próximas semanas, matérias exclusivas sobre cada uma delas no blog da Agência Quintal Criativo. Queremos aprofundar cada história, cada saber, cada gesto que faz parte dessa Pinhais viva e plural.
Se você vive em Pinhais e carrega uma memória, um saber ou uma tradição, fale com a gente. Cada contribuição é essencial para manter viva a cultura da nossa cidade.
Preservar é um ato de amor. E toda cidade que ama sua história, transforma seu futuro.
Imagem de um documento histórico datado de 29 de novembro de 1933, com o timbre da antiga "Cerâmica de Pinhais - Guilherme Weiss". Na parte superior, há uma ilustração detalhada da fábrica com chaminés fumegando e o destaque para o slogan: “O maior fabricante e exportador do Paraná”. A carta é endereçada ao prefeito de Piraquara e autoridades fiscais, comunicando a intenção da empresa de construir um armazém anexo à fábrica em Pinhais. Abaixo, aparecem as assinaturas e carimbos da época. Na parte inferior da imagem estão os logotipos da Política Nacional Aldir Blanc, Ministério da Cultura e Governo Federal.