A Importância dos Detalhes: Da Fotografia Urbana à Escrita de Projetos Culturais Vencedores

Rafaela Giacon compartilha como a atenção aos detalhes, tanto na fotografia quanto na escrita de projetos, pode ser o diferencial para criar iniciativas culturais sólidas e bem-sucedidas.

E-BOOK ENTRE LINHAS E TIJOLOS

Rafaela Giacon

6/7/20254 min read


Para quem me acompanha há mais tempo, sabe que uma das minhas paixões é a fotografia urbana. Desde que comecei a registrar os espaços de Pinhais, a minha relação com a cidade mudou completamente. E, com o tempo, fui percebendo como esse mesmo olhar atento aos detalhes também me ajudava em outra frente muito importante da minha vida profissional: a escrita de projetos culturais.

Pode parecer que esses dois universos são distantes, o da imagem e o da técnica, o da sensibilidade e o da burocracia. Mas a verdade é que eles se conectam de forma profunda. E foi sobre essa conexão que construí parte do meu e-book Entre Linhas e Tijolos, que nasce exatamente da observação cuidadosa da cidade.

O detalhe que revela

A fotografia urbana me ensinou que, muitas vezes, é nos pequenos elementos que se escondem as histórias mais potentes. Um azulejo quebrado em uma parede antiga, uma porta de madeira gasta pelo tempo, uma sombra que se repete em certos horários do dia. Esses fragmentos aparentemente simples, quando capturados com atenção, contam muito sobre a cidade, sobre quem passou por ali, sobre como aquele espaço foi vivido.

E esse mesmo raciocínio serve para a elaboração de projetos culturais. Um projeto bem-sucedido não é feito apenas de uma ideia inspiradora. Ele é feito de estrutura, de justificativa bem amarrada, de metas claras, de cronograma coerente. É na atenção aos detalhes que o projeto ganha força, solidez e, principalmente, credibilidade diante de uma comissão avaliadora.

O paralelo entre observar e planejar

Quando eu sento para escrever um projeto cultural, costumo pensar da mesma forma que quando saio com minha câmera para fotografar. Primeiro, observo. Tento entender o contexto, a comunidade, os objetivos. Depois, começo a desenhar o projeto, parte por parte, encaixando cada etapa como se fosse um enquadramento ideal.

Assim como uma boa foto precisa de composição, luz e foco, um bom projeto precisa de alinhamento entre seus objetivos, ações e resultados esperados. A beleza não está apenas na proposta criativa, mas na forma como essa proposta é apresentada, defendida e articulada em linguagem técnica.

Sensibilidade e técnica andam juntas

Muita gente que trabalha com arte tem medo ou resistência quando se fala de escrita de projeto. Eu entendo. Durante muito tempo, a parte burocrática foi vista como inimiga da criatividade. Mas, na verdade, ela pode ser uma grande aliada. E mais do que isso, pode ser uma extensão do processo criativo.

Aprender a escrever projetos culturais é aprender a traduzir uma ideia sensível em um documento técnico. E, assim como em uma boa fotografia, é preciso cuidar do contraste, do equilíbrio, da nitidez das informações. Não se trata de colocar palavras bonitas, mas de organizar as ideias de forma clara, objetiva e coerente.

O detalhe que falta pode ser o que impede um projeto de ser aprovado. E o detalhe bem resolvido pode ser o que faz ele se destacar.

O que aprendi ao fotografar Pinhais

Durante o processo de criação do e-book, me peguei observando com ainda mais cuidado os espaços da cidade. Não com pressa, mas com curiosidade. E descobri cenas incríveis em lugares por onde passo todos os dias.

Percebi que o ordinário pode ser extraordinário quando olhamos com afeto. E que a cidade tem camadas e mais camadas de história, visíveis nos detalhes. Estão nas fachadas que resistem ao tempo, nos bancos de praça marcados por gerações, nas cores dos muros que contam muito sobre o estilo de vida de cada bairro.

Esse exercício de observação me trouxe mais sensibilidade não só como fotógrafa, mas como produtora. E reforçou minha crença de que bons projetos culturais nascem de olhares atentos.

Como esse olhar influencia meus projetos

Hoje, toda vez que penso em escrever um novo projeto, me pergunto se estou realmente prestando atenção aos detalhes. Me pergunto se estou levando em consideração as particularidades do público que quero atingir. Me pergunto se estou sendo precisa nas ações que estou propondo. E se estou incluindo contrapartidas que façam sentido para a comunidade.

Essas perguntas são como lentes de aumento que uso para refinar o projeto antes de enviá-lo. E elas fazem toda a diferença.

Esse cuidado me ajudou a ter vários projetos aprovados nas leis de incentivo, como a Lei Paulo Gustavo, a Lei Rouanet e, mais recentemente, a PNAB. E é esse cuidado que também ensino quando oferecemos consultorias pela Agência Quintal Criativo.

O papel da cidade na elaboração de projetos culturais

Pinhais é uma cidade inspiradora. Mesmo sendo jovem, tem uma paisagem urbana que fala. E são essas falas silenciosas que merecem ser escutadas por meio de ações culturais que promovam pertencimento, memória e transformação.

Por isso, ao escrever um projeto, sempre busco fazer conexões com os espaços reais da cidade. Um projeto não deve ser um pacote fechado e genérico. Ele deve dialogar com a cidade, com sua estética, com suas necessidades.

E os detalhes da paisagem urbana, que muitas vezes passam despercebidos, são pistas valiosas sobre que tipo de ação pode ser mais relevante, mais acessível e mais impactante.

Uma dica para quem está começando

Se você é artista, produtor cultural ou sonha em tirar um projeto do papel, comece observando. Tire um tempo para caminhar pela sua cidade. Leve um caderno ou uma câmera. Preste atenção nos sons, nas cores, nas pessoas, nos espaços que parecem esquecidos.

Depois, pense em como transformar essa percepção em ação. Pode ser um sarau, uma oficina, um vídeo, uma exposição, uma intervenção urbana. E, quando for escrever o projeto, cuide dos detalhes como você cuidaria de uma boa foto. Ponto por ponto, com calma, com estratégia e com verdade.

Esse é o caminho que eu sigo. É o que me inspira e é o que compartilho com vocês neste texto.


Abraços Culturais
Rafaela Giacon Ferreira
Produtora Cultural, Fotógrafa e Autora de Entre Linhas e Tijolos
Agência Quintal Criativo


PROJETO REALIZADO COM RECURSOS DA POLÍTICA NACIONAL ALDIR BLANC DE FOMENTO À CULTURA – PNAB, DO MINISTÉRIO DA CULTURA E DO GOVERNO FEDERAL, POR MEIO DO EDITAL Nº 043/2024 DA PREFEITURA MUNICIPAL DE PINHAIS.
TODAS AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA OBRA SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO AUTOR.