Arquitetura que Conta Histórias: Lições de Pinhais para Projetos de Patrimônio Cultural

Rafaela Giacon reflete sobre a arquitetura de Pinhais como registro vivo da memória coletiva. A matéria mostra como a paisagem urbana inspira projetos culturais e pode ser valorizada por meio das leis de incentivo.

E-BOOK ENTRE LINHAS E TIJOLOS

Rafaela Giacon

6/7/20254 min read

Arquitetura sempre me fascinou. Talvez porque, antes mesmo de trabalhar diretamente com cultura, já vinha da área do design de interiores e da construção civil. Aprendi a olhar para formas, texturas, cores e desgastes com curiosidade e com um certo respeito. Para mim, uma parede com tinta descascada não representa abandono, mas o tempo passando. Um portão antigo diz muito sobre as escolhas de uma época. Um telhado desalinhado pode esconder décadas de histórias.

Hoje, como produtora cultural, esse olhar se ampliou. Agora, quando observo a arquitetura de Pinhais, vejo mais do que estética. Vejo memória. Vejo possibilidade. Vejo projeto.

Foi isso que me motivou a escrever o e-book Entre Linhas e Tijolos, uma reflexão sensível sobre como a paisagem urbana da cidade pode inspirar produções culturais. E é disso que quero falar aqui: da arquitetura como elemento vivo da nossa identidade e como ponto de partida para projetos que podem ser desenvolvidos por meio das leis de incentivo à cultura.

Quando os prédios falam

Pinhais é uma cidade jovem, com pouco mais de 30 anos de emancipação, mas repleta de lugares que carregam camadas de história. Cada esquina tem algo a dizer. A antiga Estação Ferroviária, por exemplo, é um símbolo que atravessa gerações. Ao olhar para suas paredes, é possível imaginar os dias em que trens cruzavam a cidade levando sonhos, trabalhadores, famílias inteiras.

O mesmo acontece com o Pinheiro Milenar, que resiste como um monumento natural no meio do espaço urbano. Ou com construções como a Igreja Nossa Senhora do Carmo, que representam a fé e a promessa de tempos difíceis vividos por moradores antigos.

Esses espaços não são apenas estruturas. Eles são registros. E mais do que isso, são oportunidades. Oportunidades de criar projetos culturais que resgatem memórias, que celebrem a história local, que envolvam a comunidade e que, com o apoio das políticas públicas corretas, saiam do papel.

A força da arquitetura nos projetos de patrimônio cultural

A produção cultural não precisa acontecer apenas nos palcos ou nas telas. Ela pode e deve surgir também das ruas, dos bairros, das construções que nos cercam. Quando falamos em patrimônio cultural, estamos nos referindo tanto ao material, como prédios, monumentos e praças, quanto ao imaterial, como festas, ofícios, saberes e tradições orais. E a arquitetura dialoga com os dois.

Um edifício antigo pode abrigar uma oficina de contação de histórias. Uma igreja centenária pode ser tema de um documentário. Uma praça pode se transformar em cenário para um espetáculo de teatro de rua. Tudo isso são formas legítimas e impactantes de valorizar o que temos. E isso é absolutamente compatível com os objetivos das leis de incentivo como a PNAB, a Lei Rouanet ou a antiga Lei Paulo Gustavo.

O olhar que transforma espaço em projeto

Enquanto escrevia o e-book, percebi o quanto a arquitetura de Pinhais me atravessa no dia a dia. Comecei a imaginar o quanto de cultura poderia ser potencializada se os olhares dos moradores fossem mais atentos aos seus arredores.

Foi com esse pensamento que estruturei a pesquisa que alimenta o livro. Conversei com vizinhos, fiz levantamentos sobre espaços que despertam sentimentos e registrei fotograficamente elementos urbanos esquecidos. Tudo isso para mostrar que a cidade é, ao mesmo tempo, cenário e protagonista da nossa vida cultural.

Os produtores culturais locais podem e devem olhar para esses espaços com atenção. É a partir dessa escuta, desse mapeamento e dessa sensibilidade que surgem bons projetos.

Da observação à ação: caminhos pelas leis de incentivo

Ao identificar um bem arquitetônico de valor simbólico, o produtor pode começar a pensar em formas de valorizá-lo culturalmente. Isso pode significar criar um projeto de inventário, como fizemos recentemente com a pesquisa sobre o patrimônio cultural de Pinhais, também aprovado pela PNAB. Pode ser um projeto de intervenção artística, de oficina educativa, de documentário ou de ocupação criativa.

As leis de incentivo estão aí para isso. Elas existem para apoiar ideias que partem do território, que fortalecem a memória local, que promovem acesso e democratização da cultura. A arquitetura, quando vista com esse olhar, deixa de ser cenário e vira matéria-prima.

Claro, é preciso conhecer os caminhos técnicos. É necessário saber escrever o projeto, organizar o cronograma, montar um orçamento viável e planejar a execução. Mas o ponto de partida está ao nosso redor. Em cada esquina.

Lições de Pinhais para além de Pinhais

Pinhais me ensinou muito. A cidade me mostrou que, mesmo com poucos anos de existência formal, tem uma riqueza simbólica que não deixa a desejar a lugar nenhum. Me ensinou que o afeto pelos espaços transforma nossa forma de viver. E que é possível criar cultura a partir do que é nosso, do que é comum, do que é real.

O que desejo com esse texto, e com o e-book, é que mais produtores e artistas locais comecem a olhar para suas cidades com esse olhar. Que entendam que não é preciso inventar algo distante. Muitas vezes, um bom projeto começa com uma boa pergunta. O que essa construção representa para mim e para a comunidade?

Porque quando a arquitetura conta histórias, a gente não precisa escrever ficção. A realidade já é rica o suficiente.

Abraços Culturais
Rafaela Giacon Ferreira
Produtora Cultural e Autora de Entre Linhas e Tijolos
Agência Quintal Criativo

PROJETO REALIZADO COM RECURSOS DA POLÍTICA NACIONAL ALDIR BLANC DE FOMENTO À CULTURA – PNAB, DO MINISTÉRIO DA CULTURA E DO GOVERNO FEDERAL, POR MEIO DO EDITAL Nº 043/2024 DA PREFEITURA MUNICIPAL DE PINHAIS.
TODAS AS INFORMAÇÕES CONSTANTES NESTA OBRA SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO AUTOR.