Desafios da Preservação Cultural em Pinhais: Reflexões e Caminhos

Por Cleverson Schuengue Produtor cultural, artista, publicitário e diretor da Agência Quintal Criativo Preservar cultura é preservar vida. E quando essa vida está enraizada em uma cidade como Pinhais — rica em histórias, expressões e memórias —, os desafios da preservação cultural ganham ainda mais peso e urgência. Durante o processo da minha pesquisa sobre o patrimônio cultural material e imaterial de Pinhais, aprovada na Lei Aldir Blanc, mergulhei em encontros, escutas e reflexões que não só evidenciaram a riqueza do nosso território, mas também escancararam as barreiras que enfrentamos para manter essa memória viva e acessível a todos. Este artigo é um convite à reflexão sobre os obstáculos que precisamos vencer se quisermos, de fato, transformar nossa história em legado.

INVENTÁRIO E PESQUISA SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL LOCAL

Cleverson Schuengue

3/31/20253 min read

A ausência de um museu: o silêncio de um espaço que ainda não existe

Uma das primeiras coisas que percebi ao começar a pesquisa de campo foi algo que me incomodava há anos, mas que agora, com olhar técnico e afetuoso, se confirmou com força: Pinhais ainda não possui um museu.

Temos história. Temos memória. Temos acervo. Temos tradição. Mas não temos um espaço público dedicado à guarda, pesquisa e exposição contínua desses bens. Falta um museu de fato — com estrutura, curadoria, política de acesso e fomento à pesquisa.

Durante as entrevistas com representantes do acervo público da cidade, com artistas, mestres de ofício e guardiões da cultura popular, ficou claro que existe um potencial gigantesco para a criação de um museu. O material está vivo, pulsando. Mas sem um lugar para ser acolhido, corre o risco de seguir invisível ou, pior, de se perder no tempo.

Um olhar ampliado: da sala de aula para o campo

Na época em que cursei Publicidade e Propaganda, tive contato com a disciplina de História da Arte. Foi ali, entre livros, imagens e aulas cheias de simbolismo, que comecei a compreender que a arte — e por consequência, a cultura — não é só estética: é linguagem, é identidade, é resistência.

Esse olhar me acompanha até hoje, e foi fundamental durante a construção deste projeto. A minha formação me ensinou a ler imagens, símbolos, contextos. A ver um muro pintado como arte pública. A entender que uma roda de capoeira é um ato político. Que um barracão de carnaval é, muitas vezes, mais potente do que uma galeria.

Mas também me ensinou a perceber o quanto a história da arte oficializada ignora contextos periféricos, locais, comunitários. A arte de Pinhais, como a de tantas cidades do Brasil, resiste à margem. E isso precisa mudar — com políticas públicas, sim, mas também com o envolvimento direto da população e de quem tem o poder de transformar espaços e olhares.

O desafio do patrimônio imaterial: o que se perde quando não se escuta

Se os bens materiais precisam de espaço físico para serem preservados, os bens imateriais precisam de atenção contínua. São festas, saberes, danças, rituais, histórias orais, músicas e práticas que sobrevivem apenas porque alguém ainda os pratica, conta ou canta.

Durante as entrevistas com representantes da comunidade indígena, da escola de samba, da capoeira, do CTG e dos ateliês locais, ficou claro que muitas dessas tradições estão sendo mantidas quase que exclusivamente por amor — sem apoio, sem registro, sem garantia de continuidade.

A cultura imaterial está sempre à beira do esquecimento. E sem ações de valorização, incentivo e documentação, ela desaparece. Por isso, escutar e registrar essas vozes foi um dos maiores compromissos da minha pesquisa.

Investimento cultural: por que ainda é tão difícil?

Pinhais cresceu, se desenvolveu, se urbanizou. Mas a infraestrutura cultural ainda caminha lentamente. Não faltam artistas, coletivos, educadores ou ideias. Falta estrutura. Falta incentivo. Falta visão de futuro.

A construção de equipamentos como museus, salas de exposição, teatros, bibliotecas modernas e centros de referência cultural ainda é tratada como um “extra”, quando deveria ser parte central de qualquer projeto de cidade sustentável e humana.

A cultura não é adorno. Ela é um direito.
E o investimento em cultura não é custo, é retorno social, econômico e humano.

Conclusão

O maior desafio da preservação cultural é a indiferença. Quando fingimos que as tradições não estão sumindo, que as histórias estão todas registradas, que as comunidades estão sendo ouvidas — abrimos espaço para o apagamento.

Pinhais merece mais.
Merece um museu. Merece investimento. Merece ser reconhecida por sua força cultural.

E acima de tudo: merece que seus moradores se vejam e se sintam parte dessa história.

Seguimos. Documentando, ouvindo, registrando — e sonhando com o dia em que preservar cultura em Pinhais não será um desafio, mas uma prioridade.

Imagem em cores tirada de baixo para cima, mostrando o tronco rugoso de uma araucária (pinheiro-do-paraná) com seus galhos projetando-se em formato radial, como raios de uma roda, contra o céu claro ao fundo. A perspectiva destaca a imponência e a simetria da árvore, símbolo da vegetação sulista e parte da identidade ambiental e cultural de Pinhais. No canto inferior da imagem estão os logotipos da Política Nacional Aldir Blanc, Ministério da Cultura e Governo Federal.