Do papel para a câmera: como nasceu o nosso documentário
Nesta matéria, Rafaela Giacon compartilha uma visão íntima e cronológica do processo que transformou uma ideia sensível em realidade audiovisual. Da observação do cotidiano à construção do roteiro, dos desafios da produção às conquistas da filmagem, conheça todos os bastidores dessa trajetória que valoriza a memória e a identidade cultural de Pinhais. Uma história sobre criatividade, planejamento, afeto e pertencimento.
DOCUMENTÁRIO: HISTÓRIAS EM CADA ESQUINA
Rafaela Giacon
4/28/20255 min read


Criar um documentário é, antes de tudo, transformar sensibilidade em ação. É sair do campo das ideias, dos rascunhos no papel e mergulhar de cabeça em um processo criativo que envolve planejamento, técnica e, principalmente, afeto. Foi exatamente assim que nasceu "Arquitetura de Pinhais: Histórias em Cada Esquina", um projeto idealizado dentro da Agência Quintal Criativo e aprovado pela Lei Paulo Gustavo.
Durante todo esse percurso — da ideia à realização — entendi que um documentário não nasce apenas de imagens, mas de escuta, empatia e conexão com a história que se deseja contar. Em cada etapa, fui aprendendo e reaprendendo que o audiovisual não é só uma linguagem estética: é também uma ferramenta de pertencimento e valorização coletiva. Neste texto, compartilho com vocês como tudo isso aconteceu, numa visão íntima e cronológica do nascimento do nosso documentário.
Onde tudo começou
A ideia surgiu da observação de que, embora muitas pessoas reconheçam a beleza e o crescimento de Pinhais, poucos conhecem de fato as histórias que deram forma à cidade. Histórias contadas pelos próprios moradores, pelas construções antigas, pelos espaços públicos e pelas marcas que o tempo deixou. Como produtora cultural atuante em Pinhais, essa percepção foi crescendo dentro de mim ao longo do tempo, até se transformar em uma necessidade: registrar essa memória viva antes que ela se perdesse.
Foi aí que surgiu a vontade de fazer um documentário. A primeira anotação dessa ideia foi bem simples: uma lista de lugares que eu sabia que tinham valor simbólico para a cidade. Mas logo percebi que não bastava apenas mostrar os espaços — era preciso contar as histórias por trás de cada um deles, trazer à tona o sentimento de pertencimento que existe, muitas vezes escondido, em cada esquina da cidade.
Com base nisso, comecei a observar com mais atenção os detalhes da paisagem urbana de Pinhais: as fachadas, os muros, os nomes de ruas, os estabelecimentos antigos, as igrejas, os trilhos, os pinheiros. Tudo carregava traços de uma memória que merecia ser registrada. Foi uma percepção que cresceu silenciosa, mas constante, até se tornar projeto.
Do projeto ao planejamento
A maior virada aconteceu quando surgiu a possibilidade de inscrever essa ideia na Lei Paulo Gustavo. Com o apoio da Agência Quintal Criativo, começamos a estruturar a proposta dentro das exigências do edital. O desafio era grande: transformar uma ideia poética em um projeto viável, com cronograma, orçamento e metas bem definidas.
Foi nesse momento que o projeto tomou corpo. Selecionamos os locais que seriam abordados, construímos a linha narrativa do documentário, definimos os processos de produção e, principalmente, organizamos tudo de modo a respeitar os prazos e recursos disponíveis. Ao lado do Cleverson, que esteve comigo em todas as etapas de direção e realização, transformamos a proposta em algo sólido, pronto para sair do papel.
Mesmo após a aprovação, sabíamos que o desafio continuava, foi aí que a criatividade e o trabalho em equipe fizeram toda a diferença. Tivemos que adaptar técnicas, otimizar agendas, reduzir deslocamentos, e ainda assim manter a qualidade e o cuidado estético da produção.
A parte mais delicada do planejamento foi justamente encontrar equilíbrio entre o que gostaríamos de mostrar e o que seria possível com os recursos disponíveis. Cada cena foi pensada com intenção. E cada escolha foi estratégica: tanto estética quanto logística. Em muitos momentos, o que nos guiava era o desejo de honrar a história da cidade — mesmo quando as condições não eram ideais.
Quando virou realidade
O primeiro passo prático foi revisar o roteiro, cruzando os locais escolhidos com suas histórias e com o impacto que poderiam causar visualmente. Em seguida, organizamos o cronograma de captação, as autorizações e os detalhes técnicos da filmagem. Enquanto isso, eu cuidava da parte administrativa — prestação de contas, documentação, comunicação com parceiros e acompanhamento da execução.
A ficha realmente caiu quando gravamos no entorno do Pinheiro Milenar. Estávamos diante de uma árvore que carrega mais do que beleza: carrega memória, identidade e resistência. Naquele momento, com a câmera ligada e a luz perfeita, percebi que tudo aquilo que antes estava no papel agora ganhava vida diante dos nossos olhos.
Outro momento simbólico foi durante a gravação na antiga Estação Ferroviária. Ali, sentimos o tempo dialogando com o presente. A textura das paredes, o som do vento passando entre as estruturas, tudo parecia nos lembrar que cada construção guarda uma história. E que nossa missão era justamente dar voz a esses espaços.
Desafios que fortalecem
Nem tudo foi simples. Tivemos dias de chuva intensa, dificuldades com acesso a alguns locais e limitações de tempo para gravar. Alguns entrevistados precisaram remarcar. E em certos momentos, sentimos a pressão de equilibrar estética, cronograma e prestação de contas. Mas em nenhum momento cogitamos desistir. Pelo contrário: cada obstáculo nos lembrou do valor e da urgência do projeto.
Outro ponto de atenção foi manter a coerência entre a narrativa visual e a narração em off. Precisávamos que cada imagem conversasse com o texto de forma natural. Por isso, o roteiro passou por várias versões até chegar à versão final. A trilha sonora também teve papel essencial para dar o tom que queríamos: intimista, reflexivo, emocional.
O papel da equipe e das parcerias
Nada disso seria possível sem a parceria com o Cleverson e com a Agência Quintal Criativo. A cumplicidade no olhar, a confiança nas decisões, o diálogo constante — tudo isso fez com que o documentário fosse resultado de uma construção coletiva. Cada ideia foi ouvida. Cada detalhe foi ajustado com cuidado.
Além disso, tivemos apoio importante da comunidade e de pessoas que confiaram no projeto mesmo antes de ver qualquer imagem pronta. Isso mostra o quanto a cultura local pode ser fortalecida quando há escuta, confiança e conexão entre quem realiza e quem vive na cidade.
Conclusão
"Histórias em Cada Esquina" não é apenas um documentário. É o resultado de um sonho coletivo, de um esforço coordenado e de uma profunda vontade de valorizar nossa cidade. A escolha de cada local, cada fala, cada plano de câmera foi feita com cuidado e consciência, respeitando não só os bens culturais da cidade, mas também o papel que a arte tem na preservação da nossa identidade.
A experiência de transformar essa ideia em algo real me ensinou muito — sobre produção, sobre cidade, e sobre mim mesma. Em breve, compartilho aqui no blog a parte mais pessoal dessa história. Por enquanto, fica o convite: assista ao documentário, conheça mais sobre a história de Pinhais e compartilhe esse olhar com quem também acredita que cultura é um caminho de memória e pertencimento.
Abraços culturais,
Rafaela Giacon