Histórias e Saberes das Comunidades: o poder da oralidade na preservação cultural
Por Cleverson Schuengue Produtor cultural e diretor da Agência Quintal Criativo Um dos pontos mais potentes da pesquisa sobre o patrimônio cultural de Pinhais tem sido a escuta. Porque quando alguém compartilha sua história, não está apenas recordando o passado — está transmitindo um pedaço vivo da cultura, da identidade e da resistência de um povo. Neste processo, tivemos o privilégio de conversar com seis figuras fundamentais da nossa cidade: artistas, mestres de ofício, guardiões da memória e representantes de comunidades que mantêm vivas tradições muitas vezes invisibilizadas. Em cada fala, ficou evidente o quanto a oralidade é um dos pilares mais fortes da preservação do patrimônio imaterial.
INVENTÁRIO E PESQUISA SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL LOCAL
Cleverson Schuengue
3/30/20253 min read


Anderson – Acervo histórico do Centro Cultural de Pinhais
Anderson compartilhou conosco o trabalho do Centro Cultural e do acervo municipal, onde estão reunidos jornais históricos, registros audiovisuais, documentos, objetos e fotografias desde os anos 1990. Com ele, falamos sobre o valor da educação patrimonial e da ideia criativa que transforma personagens históricos da cidade em figuras de RPG, como forma de engajar jovens e aproximá-los da própria história local.
Para além do acervo físico, ele reforçou que a memória de uma cidade também se preserva com afeto e imaginação — e que o prédio do Centro Cultural, com sua arquitetura pensada como uma flor de lis, também é parte viva do patrimônio material.
Luciano Corbeline – Escultor e artista plástico
Luciano abriu as portas do Ateliê Corbeline, um espaço onde a arte se mistura com a paisagem de Pinhais há mais de 40 anos. Com sua fala pausada e profunda, ele nos contou como sua trajetória foi marcada pela escultura em pedra e pela influência de artistas renascentistas, mesclada à abstração do dia a dia.
Mais do que um escultor, Luciano é um preservador de formas e memórias. Seu ateliê é um bem material; sua arte, um bem imaterial. Em cada obra, ele expressa sentimentos, formas inéditas e um amor pela cidade que transborda em cada detalhe do seu trabalho.
Marcelo – Representante do CTG de Pinhais
No Centro de Tradições Gaúchas, Marcelo nos mostrou como a cultura sulista é mantida viva com muita dedicação. São mais de 80 pessoas envolvidas com danças, laços, atividades campeiras, concursos e festivais — com destaque para o Festival Gaúcho que acontecerá em maio.
O CTG é um espaço de formação, onde crianças e adultos aprendem valores, tradições e modos de vida que foram trazidos de outras regiões e ressignificados aqui. Ele destacou os desafios de manter a estrutura financeira da entidade e a importância de projetos de incentivo à cultura para garantir a continuidade dessas tradições.
Aroldo – Escola de Samba
Aroldo carrega consigo a bandeira da escola de samba iniciada por sua mãe — um legado de resistência, criatividade e paixão pelo carnaval. Com uma história que se mistura à da cidade, ele compartilhou como, mesmo com poucos recursos, a escola segue viva, com fantasias feitas à mão e apoio da comunidade local.
Seu depoimento é um lembrete de que a cultura popular é feita com suor, amor e memória, e que o carnaval de Pinhais também é uma expressão legítima do nosso patrimônio imaterial.
Eriton – Representante da comunidade indígena Guarani
Eriton nos ofereceu um mergulho profundo na história ancestral do território onde hoje está Pinhais e Piraquara. Ele falou sobre a retomada da terra pela comunidade Guarani, a construção da Casa de Reza, o surgimento da escola indígena e o papel da oralidade como forma de organização social e preservação da identidade.
Sua fala revelou como a história indígena é viva, espiritual e política. Mais do que documentos, são os saberes compartilhados em roda, passados de geração em geração, que garantem a sobrevivência e a autonomia das comunidades originárias.
Marcelo Oliveira – Professor de capoeira
Com 26 anos de dedicação à capoeira, Marcelo nos mostrou como essa arte é educação, resistência e transformação social. Ele contou como iniciou sua jornada escondido da mãe, apenas para poder aprender os primeiros movimentos — e hoje é responsável por um projeto que já formou dezenas de jovens da comunidade.
A capoeira em Pinhais é muito mais do que uma roda de jogo. É um espaço de encontro, identidade e pertencimento, onde a oralidade se manifesta em cantos, histórias e ensinamentos.
Escutar para preservar
Essas entrevistas nos mostraram que o verdadeiro inventário de uma cidade não cabe apenas em planilhas ou relatórios. Ele está na fala de quem vive, de quem ensina, de quem transforma o espaço com arte, tradição e saberes ancestrais.
A oralidade é um fio que conecta passado, presente e futuro. E registrar essas falas é um ato de respeito, reconhecimento e preservação. Por isso, todas as entrevistas serão publicadas no blog da Agência Quintal Criativo em matérias individuais, para que cada uma dessas vozes continue ecoando onde for necessário.
Leia também as outras matérias da pesquisa no blog e acompanhe os próximos conteúdos que virão com detalhes de cada entrevista e depoimento.
Acesse: www.agenciaquintalcriativo.com.br
Imagem histórica em preto e branco dividida em dois quadros. À esquerda, dois homens negros tocam berimbaus com expressão intensa, em um ambiente com folhas de palmeira ao fundo, evocando contexto de roda de capoeira ou manifestação tradicional afro-brasileira. À direita, um homem também negro, de idade avançada, segura um arco com bandeira hasteada na ponta, olhando para cima, em gesto simbólico. Outras pessoas observam ao fundo. A imagem representa práticas culturais afrodescendentes e expressões de resistência e identidade. Na parte inferior estão os logotipos da Política Nacional Aldir Blanc, Ministério da Cultura e Governo Federal.