Inventário Cultural de Pinhais: uma jornada de descobertas e próximos passos

Relatório Final do Inventário e Diagnóstico Cultural de Pinhais. Olá, amigos e amigas de Pinhais! É com alegria e orgulho que compartilho uma grande conquista: concluímos o projeto Inventário e Diagnóstico Cultural de Pinhais. Após meses de trabalho dedicado, finalmente temos um relatório completo que mapeia e celebra os bens culturais da nossa cidade. Nesta matéria de blog, quero contar um pouco sobre a jornada que eu e minha colega Rafaela vivemos durante essa pesquisa, o que aprendemos ao reconhecer nossos patrimônios materiais e imateriais, e como essa experiência reforçou em nós a vontade de ver Pinhais brilhar ainda mais no cenário cultural.

INVENTÁRIO E PESQUISA SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL LOCAL

Cleverson Schuengue

4/4/202511 min read

A jornada de pesquisa.

Realizar este inventário cultural foi uma aventura repleta de descobertas e desafios. Eu, Cleverson, proponente mergulhei de cabeça nesse projeto ao lado da minha parceira de pesquisa, Rafaela, e juntos percorremos bairros, conversamos com moradores antigos e jovens artistas, folheamos documentos históricos. Cada dia de trabalho era único: ora estávamos entrevistando o fundador da escola de samba, ora caminhávamos por um caminho histórico registrando detalhes arquitetônicos esquecidos pelo tempo.

No início, confesso que sentimos um frio na barriga diante da responsabilidade. Mapear os bens culturais de Pinhais significava dar voz a histórias e memórias que muitas vezes ficam escondidas na correria do dia a dia. Com o gravador na mão e o caderninho de anotações sempre a postos, eu e Rafaela nos vimos aprendendo a ouvir ativamente. Percebemos que mais do que pesquisadores, nos tornamos aprendizes de cada pessoa que nos acolhia para um café e uma boa prosa sobre o passado e o presente cultural de Pinhais.

Essa troca humana foi, sem dúvida, a parte mais marcante da jornada. A cada relato de vida, a cada fotografia antiga compartilhada, sentíamos que estávamos não só coletando dados para um relatório, mas construindo um retrato afetivo da cidade. Houve momentos emocionantes: vimos olhos brilharem de orgulho quando um artesão local nos mostrava suas obras e explicava técnicas tradicionais; ouvimos risadas saudosas ao relembrar carnavais de décadas atrás; e também sentimos a dor em depoimentos sobre lutas e perdas enfrentadas pela comunidade cultural. Tudo isso nos tocou profundamente e reforçou nosso compromisso de honrar essas vozes no relatório final.

Reconhecendo os bens culturais materiais e imateriais de Pinhais

Ao longo da pesquisa, nosso olhar foi se aguçando para identificar dois tipos de patrimônio que Pinhais abriga: os bens culturais materiais (aqueles tangíveis, como espaços físicos, construções, objetos) e os bens imateriais (as tradições, saberes, práticas e expressões culturais que vivem nas pessoas). Descobrir e reconhecer esses bens foi como desvendar um tesouro que estava, em grande parte, escondido à plena vista. E que surpresa foi perceber quantas dessas riquezas estavam ao nosso redor, esperando para serem valorizadas.

Entre os bens materiais, destacamos lugares que carregam a memória e o cotidiano cultural da cidade. Um exemplo é a Praça de Skate de Pinhais, que vai muito além de um espaço de lazer. Ali, gerações de jovens se encontraram para praticar esportes, expressar estilo, socializar e até ensaiar rimas e batalhas de rap. A praça se tornou símbolo de resistência urbana, palco espontâneo de cultura de rua e identidade juvenil, sendo um verdadeiro patrimônio afetivo da cidade.

Também registramos a histórica Igreja Nossa Senhora do Carmo, que se ergue como guardiã de promessas e histórias antigas – lembra daquela lenda do morador que prometeu erguê-la se voltasse salvo da guerra? Pois é, são histórias assim que dão alma aos nossos espaços físicos.

Além disso, mapeamos espaços culturais contemporâneos, como ateliês de artistas locais e pontos de encontro comunitário que servem de palco para eventos, oficinas e trocas criativas.

Já os bens imateriais de Pinhais nos encantaram pela diversidade e vivacidade. Tivemos o privilégio de conhecer a origem da primeira escola de samba da cidade de Pinhais – Grêmio Recreativo Internautas Independentes, nascida do sonho da mãe do Sr. Aroldo atual diretor da escola de samba. Sua mãe apaixonada pelo Carnaval, que começou organizando blocos carnavalescos e deu origem à primeira escola de samba de Pinhais, hoje parte da associação local de agremiações carnavalescas. Também documentamos a força da capoeira, conversamos com o mestre Marcelo (Clone) e seu grupo, Capoeira Brasil que envolve crianças e jovens em rodas que misturam luta, dança e música, transmitindo valores de respeito e disciplina. Exploramos as danças, a música e a culinária tradicionais gaúchas mantidas vivas pelo CTG. E não podemos esquecer da rica herança indígena que permeia nossa região: em diálogo com meu amigo pessoal, Ériton atual diretor da Escola Estadual Indígena Cacique Korupar – Piraquara/PR. Entendemos a importância de manter vivos o idioma nativo e os rituais ancestrais. Essa conexão nos lembra que Pinhais também carrega as raízes dos primeiros povos desta terra.

Reconhecer esses bens culturais, tanto os que podemos tocar quanto os que só podemos sentir e ouvir, foi um aprendizado valioso. Cada um deles conta um pedaço da história de Pinhais e reflete a diversidade de influências que formam a identidade local. Percebemos que nossa cidade, apesar de relativamente jovem como município, já possui um mosaico cultural riquíssimo, fruto de diferentes migrações, tradições e iniciativas comunitárias. Mais do que catalogar itens, nós nos sentimos guardadores de memórias, com a responsabilidade de trazer à luz esses patrimônios para que toda a população possa conhecê-los e valorizá-los.

O potencial de um museu para Pinhais

Uma das reflexões que emergiu com força durante o inventário foi: Pinhais não mereceria ter um museu próprio? Conforme íamos reunindo tantas histórias, objetos e referências culturais, ficou claro para nós o enorme potencial de se criar um espaço dedicado à memória e identidade pinhaiense. Atualmente, nossa cidade carece de um museu municipal onde se possa ver reunido todo esse acervo vivo que encontramos espalhado em centros comunitários, arquivos pessoais e na lembrança das pessoas mais velhas.

Ter um museu não é apenas sobre exibir coisas antigas, é sobre fortalecer o vínculo da comunidade com sua própria história. Durante a pesquisa, percebemos como muitas pessoas desconhecem fatos e personagens importantes de Pinhais, justamente por não haver um espaço onde essas narrativas estejam acessíveis. Um museu seria uma ponte entre gerações: os mais velhos poderiam revisitar memórias e compartilhar saberes, enquanto os mais jovens descobririam que sua cidade tem, sim, muita história para contar. É claro que montar um museu envolve recursos e planejamento, mas sonhar com esse futuro possível é o primeiro passo. Nosso inventário oferece uma base inicial de conteúdo e acervo mapeado, quem sabe seja a semente para um “Museu de Pinhais” florescer nos próximos anos?

Principais descobertas da pesquisa

Ao final dessa jornada, algumas constatações se destacaram e merecem ser compartilhadas de forma clara. Entre as principais descobertas do Inventário Cultural de Pinhais, posso destacar:

  • Riqueza cultural diversa e oculta: Pinhais revelou ter um mosaico cultural muito mais diverso do que imaginávamos. Há uma variedade de manifestações, do samba ao tradicionalismo gaúcho, da capoeira à arte indígena, ocorrendo muitas vezes de forma discreta nos bairros. Muitas dessas riquezas culturais estavam "escondidas" por falta de registro ou divulgação, e trazê-las à tona foi como iluminar um palco que andava às escuras.

  • Comunidade orgulhosa de sua identidade: Sempre que demos espaço para as pessoas falarem de suas tradições e memórias, percebemos um orgulho genuíno de ser pinhaiense. Seja um mestre de capoeira formando jovens cidadãos, uma artesã repassando técnicas aos aprendizes, ou um sambista veterano contando dos primeiros desfiles, todos demonstraram um amor profundo pela cultura local e um desejo de vê-la respeitada e transmitida às novas gerações.

  • Desafios estruturais para a cultura local: Apesar da riqueza cultural, notamos lacunas importantes. Falta de espaços adequados para apresentações e exposições, pouca integração entre os grupos culturais (muitas vezes cada iniciativa vive isolada em seu canto), e especialmente carência de apoio financeiro e orientação. Vários agentes culturais comentaram as dificuldades em manter projetos por conta própria e em navegar pela burocracia para conseguir incentivos (quando sabiam da existência deles). A sensação de “estar lutando sozinho” ainda é comum entre artistas e coletivos da cidade.

  • Vontade de mudança e colaboração: Em meio aos desafios, notamos uma forte vontade de melhorar e unir forças. Muitos entrevistados perguntavam “e agora, o que podemos fazer com esse inventário?” ou seja, existe a expectativa de que este trabalho gere frutos concretos, como políticas públicas, eventos ou novas parcerias. Vimos um senso de que a cultura de Pinhais pode ganhar mais visibilidade e apoio se todos, poder público, comunidade e setor privado – colaborarem. E só o fato de termos ouvido essas vozes já plantou sementes de conexão entre alguns agentes que não se conheciam antes.

Essas descobertas pintam um quadro realista, mas também esperançoso. Elas nos mostram onde temos potencial para crescer e o que precisamos enfrentar para valorizar plenamente a cultura pinhaiense.

O poder da escuta às comunidades

Se houve um ingrediente essencial para o sucesso desta pesquisa, foi a escuta atenta às comunidades. Aprendemos rapidamente que para compreender os valores culturais de Pinhais, era fundamental abrir espaço para que as pessoas contassem suas próprias histórias, no seu próprio ritmo. Ao invés de chegarmos com respostas prontas, chegamos com perguntas sinceras e ouvidos abertos – e isso fez toda a diferença.

Essa metodologia de escuta ativa não só enriqueceu o inventário com informações que nenhum arquivo formal conteria, como também gerou confiança. As pessoas se sentiram respeitadas e valorizadas por poderem contribuir com seu conhecimento.

Reforçar o papel da escuta significa reconhecer que as comunidades são as guardiãs legítimas de sua cultura. Políticas públicas efetivas nascem desse diálogo franco com a população. Ao ouvirmos as demandas, sonhos e dificuldades dos agentes culturais de Pinhais, pudemos retratar no relatório uma visão mais fiel e humana da realidade cultural local. E esse é um legado importante do projeto: mostrar que a participação comunitária não é apenas desejável, é indispensável para preservar e promover nosso patrimônio.

Desafios enfrentados pelos agentes culturais

Mesmo com toda a manifestação cultural identificada, nosso diagnóstico deixou evidente que os agentes culturais de Pinhais ainda enfrentam muitos desafios para manter suas iniciativas vivas. Um dos pontos mais preocupantes é a falta de informação quanto às leis de incentivo à cultura e outras políticas de fomento. Muitos artistas, produtores e líderes de grupos comunitários nos relataram que não conhecem bem os mecanismos de financiamento público existentes ou não sabem por onde começar para acessá-los.

Por exemplo, enquanto conversávamos com o pessoal do CTG, ficou claro que eles sustentam suas atividades principalmente com recursos próprios e eventos beneficentes, sem conseguir aproveitar plenamente editais ou leis de incentivo que poderiam aliviar essa carga. Aqueles que conheciam algo sobre essas leis mencionaram a burocracia intimidadora – formulários complexos, exigências técnicas, prestação de contas minuciosa, como um fator que acaba desanimando tentativas de inscrição.

Essa desconexão entre os fazedores de cultura e as políticas públicas de apoio indica a necessidade urgente de pontes. Percebemos que muitos talentos locais ficam sem visibilidade ou apoio por pura falta de orientação e divulgação de oportunidades. É doloroso ver projetos valiosos dependendo apenas de esforços individuais, quando poderiam se beneficiar de recursos que já existem mas não chegam na ponta final. Nosso papel enquanto pesquisadores também foi o de identificar essas lacunas para que possamos, junto com a comunidade e o poder público, pensar em soluções.

Caminhos possíveis para fortalecer a cultura em Pinhais

Apesar dos desafios apontados ao longo da pesquisa, é importante reconhecer que Pinhais já está trilhando caminhos importantes para fortalecer sua cena cultural. Um dos exemplos mais significativos é o investimento em oficinas e cursos de capacitação para agentes culturais. Eu e Rafaela, por exemplo, estamos participando de um curso com carga horária de 160 horas promovido pelo Instituto Federal do Paraná, voltado à formação em áreas como pesquisa, produção, gestão cultural e políticas públicas. Estar nesse processo nos mostra o quanto ainda temos a aprender e o quanto essas iniciativas são fundamentais para profissionalizar e potencializar a atuação de artistas e produtores locais.

Além disso, o município já realiza ações de divulgação sobre as principais políticas culturais em vigor. Com o encerramento da vigência da Lei Paulo Gustavo, os focos agora são a Lei Aldir Blanc (em sua nova fase) e outras legislações de fomento cultural e subsídio que seguem ativas. A comunicação sobre essas políticas, por meio das redes da prefeitura e encontros presenciais, tem sido um avanço, mas claro, pode sempre ser aprimorada com mais alcance e linguagem acessível para diferentes perfis de agentes culturais.

Outro ponto que merece destaque é a atuação da equipe do Centro Cultural de Pinhais, que vem desempenhando um papel essencial nesse novo momento da cultura local. Em diversos momentos durante o processo de pesquisa e também como agentes culturais eu e Rafaela fomos muito bem atendidos, com escuta atenta, esclarecimento de dúvidas e acolhimento das nossas sugestões. Trata-se de uma equipe formada por profissionais comprometidos e apaixonados pela arte, que não apenas nos orientam sobre editais e leis de fomento, como também se colocam na linha de frente quando o assunto exige busca por informações mais técnicas ou atualizadas, junto ao próprio Ministério da Cultura.

É importante lembrar que estamos vivendo um momento tecnicamente novo para o município, com a implementação mais ativa de políticas como a nova Lei Aldir Blanc. Isso exige aprendizado coletivo: nós, artistas e produtores culturais, estamos aprendendo junto com a administração pública como usar da melhor forma esses recursos, respeitando os critérios, prestando contas com responsabilidade, mas também buscando transformar esses incentivos em projetos com impacto real e duradouro na cidade.

Por isso, mais do que apontar falhas, esse momento é de construção conjunta. Temos potencial, temos iniciativas já em andamento, e temos — acima de tudo — uma rede de pessoas dispostas a fazer acontecer. O que precisamos agora é seguir fortalecendo essas pontes, criando novos acessos, ouvindo quem está na ponta e garantindo que a cultura de Pinhais não seja apenas preservada, mas também vivida e transformada diariamente.

Conclusão: um convite à participação contínua

Concluir o Inventário e Diagnóstico Cultural de Pinhais foi um grande passo, mas sabemos que a jornada pela valorização da cultura local continua. Eu e Rafaela, como realizadores deste projeto, encaramos essa experiência também como parte da nossa formação contínua. A cada história ouvida, a cada dado analisado, aprendemos imensamente e queremos seguir aprendendo, nos aperfeiçoando e contribuindo para que iniciativas como esta se tornem cada vez mais eficazes. Valorizamos muito tudo o que vivenciamos e as pessoas maravilhosas que conhecemos pelo caminho.

Agora, com o relatório final disponível publicamente:

PDF com acessibilidade (Inventário e Pesquisa sobre Patrimônio Cultural Material e Imaterial Local )

Pesquisa em .Docx (Inventário e Pesquisa sobre Patrimônio Cultural Material e Imaterial Local)

Pesquisa em HTML (Inventário e Pesquisa sobre Patrimônio Cultural Material e Imaterial Local)

Deixamos um convite aberto a você, leitor: que tal mergulhar nesse material e descobrir detalhes que não couberam nesta matéria? Sua leitura atenta e seu feedback são extremamente bem-vindos. Queremos ouvir suas impressões: o que te surpreendeu, o que te tocou, que ideias você tem para somar? A cultura de Pinhais é um patrimônio de todos nós, e seu envolvimento faz toda a diferença.

Reforço que este não é um ponto final, mas sim uma vírgula nessa história em construção. Nosso desejo é que o inventário sirva de base para muitas ações futuras – quem sabe a criação daquele museu sonhado, ou novas políticas de incentivo locais, ou ainda projetos educativos nas escolas sobre a história pinhaiense. Nós, do Quintal Criativo, seguiremos engajados e à disposição para colaborar no que estiver por vir. Agradeço a todos que apoiaram, participaram e acreditaram neste projeto.

Vamos manter acesa a chama da cultura em Pinhais. Visite o relatório, compartilhe suas ideias e acompanhe os próximos capítulos dessa caminhada pela preservação cultural da nossa cidade!

Montagem com cinco fotografias coloridas da Igreja Nossa Senhora da Boa Esperança, um dos principais patrimônios arquitetônicos de Pinhais, Paraná. As imagens mostram diferentes ângulos da igreja: a torre central com cruz no topo, a fachada principal com escadaria, as janelas ogivais em estilo neogótico e detalhes das paredes externas em tom branco. O céu azul com nuvens brancas realça a imponência da construção. Ao fundo, vegetação e estruturas urbanas completam a paisagem. Na parte inferior da imagem, estão os logotipos da Política Nacional Aldir Blanc, Ministério da Cultura e Governo Federal.