Por que contar essa história importa (muito)?
Nesta reflexão, Rafaela Giacon compartilha o impacto de resgatar a memória cultural da cidade através do documentário “Histórias em Cada Esquina”. Um texto voltado especialmente aos jovens, mostrando como o audiovisual pode despertar senso de pertencimento, autoestima e respeito pela cidade onde vivemos. Descubra como narrar o passado é também uma forma de construir o futuro.
DOCUMENTÁRIO: HISTÓRIAS EM CADA ESQUINA
Rafaela Giacon
4/28/20254 min read


Quando a gente fala sobre documentários que resgatam a memória de uma cidade, pode parecer, à primeira vista, que estamos falando só com os historiadores, os mais velhos ou com quem tem uma ligação direta com a área cultural. Mas não é sobre isso. Essa matéria é, especialmente, para você que é jovem, mora em Pinhais e talvez nunca tenha se perguntado como foi que a cidade chegou a ser o que é hoje. E por que isso importa? Porque essa história também é sua.
"Arquitetura de Pinhais: Histórias em Cada Esquina" é um documentário que nasceu da vontade de olhar com mais atenção para os espaços da nossa cidade e perguntar: o que existia aqui antes? Quem construiu isso? O que essa rua, esse prédio ou esse bairro representam para quem viveu aqui antes da gente?
Eu e Cleverson — parceiros na direção e produção — decidimos criar esse material porque entendemos que a cultura da cidade onde a gente vive precisa ser conhecida para ser respeitada. E mais do que respeitada: precisa ser cuidada, preservada e passada adiante.
Cultura não é só o passado, é também o agora
Pinhais é uma cidade nova. Tem apenas 32 anos desde sua emancipação política, e muita gente ainda enxerga como uma cidade dormitório, de passagem ou extensão de Curitiba. Mas quem vive aqui, quem caminha por essas ruas e encontra rostos conhecidos nos pontos de ônibus, nas feiras, nos eventos culturais, sabe que há uma identidade em construção.
Essa identidade é feita de pequenas histórias, como a do Pinheiro Milenar que ainda resiste no meio urbano. Da antiga estação ferroviária que testemunhou chegadas e partidas. Das igrejas, fábricas e bairros que cresceram com a força do trabalho de muitas mãos anônimas. Essas histórias estão nos livros da biblioteca — é verdade — mas a gente sabe que hoje, especialmente entre os jovens, o audiovisual é o meio mais acessível e direto de se informar e se emocionar.
Por isso o documentário importa. Porque ele traduz essas memórias em imagem e som, em uma linguagem que conversa com o agora. E não é só para assistir: é para sentir. Para despertar a curiosidade e o senso de pertencimento.
Pertencer é se reconhecer na paisagem
Durante as gravações, vimos de perto como os lugares ganham outro sentido quando conhecemos sua história. Uma praça pode ter sido palco de encontros importantes. Um barracão pode ter abrigado um ofício passado de geração em geração. Uma igreja pode ter sido construída como promessa de quem sobreviveu a uma guerra. Tudo isso muda a forma como a gente olha para esses espaços.
E quando um jovem entende que aquele lugar que ele atravessa todos os dias carrega a história de sua cidade, ele passa a se ver como parte dessa narrativa. Isso tem um poder imenso. Gera pertencimento, autoestima e vontade de fazer parte — não só como espectador, mas como agente de mudança.
Contar para preservar
Poderia parecer exagero dizer que um documentário ajuda a preservar a cidade. Mas não é. Porque o que não é contado, não é lembrado. E o que não é lembrado, não é cuidado. A história de Pinhais precisa ser contada não só para que os mais velhos recordem, mas para que os mais novos descubram.
Quando a gente mostra para os jovens o que foi a cidade antes deles, eles começam a entender por que certos lugares são importantes. Por que não se trata só de demolir ou reformar, mas de respeitar. Por que aquele sobrado velho ou aquela praça esquisita têm, sim, valor histórico e emocional para muitas pessoas.
E mais: eles começam a entender que a cultura não está só nas grandes cidades, nos centros históricos famosos, nas capitais. Ela está aqui, do lado de casa. No bairro, no muro pintado, na roda de conversa, na festa da escola, na música que toca no evento local.
A cidade também é deles
A gente quis fazer esse documentário pensando que, talvez, um jovem que sonha em trabalhar com vídeo, arte, cultura ou educação pudesse se inspirar a começar sua própria caminhada a partir da sua cidade. Que ele entendesse que não precisa sair de Pinhais para ser artista, pesquisador ou produtor. Que dá para olhar para o próprio quintal e encontrar matéria-prima rica para criar.
E mesmo quem não quer seguir por esse caminho pode se beneficiar. Porque conhecer a cidade é também entender os caminhos que a gente percorre, as referências que moldam nosso olhar, as raízes que sustentam nosso presente.
Conclusão: contar é resistir
Contar essa história importa porque a cultura é o que nos liga como comunidade. Porque ninguém cuida do que não conhece. E porque dar voz à cidade, aos seus espaços, às suas memórias, é também dar voz a quem vive nela hoje.
Importa porque os jovens de hoje são os guardiões do amanhã. E se eles aprenderem a reconhecer valor nas esquinas da própria cidade, temos mais chances de construir um futuro que respeita o passado sem deixar de sonhar com o novo.
Esse documentário é o começo de uma conversa. E a gente espera que você, jovem de Pinhais, esteja pronto para continuar escrevendo essa história.
Abraços Culturais,
Rafaela Giacon Ferreira