Metodologia da Pesquisa: Como documentamos a cultura viva de Pinhais
Por Cleverson Schuengue Produtor cultural e diretor da Agência Quintal Criativo Ao iniciar o projeto “Inventário e Pesquisa sobre o Patrimônio Cultural Material e Imaterial de Pinhais”, sabíamos que estávamos lidando com algo sensível, vivo e, muitas vezes, invisível. Nosso maior desafio não era apenas reunir dados — era garantir que eles refletissem a riqueza humana, histórica e afetiva que cada bem cultural carrega. Para isso, optamos por uma metodologia qualitativa, baseada na escuta ativa, observação direta, entrevistas em profundidade e análise de documentos históricos. A escolha não foi por acaso. O qualitativo nos permite ir além da superfície: entender os significados, as relações sociais e os contextos que moldam o patrimônio cultural de uma comunidade.
INVENTÁRIO E PESQUISA SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL MATERIAL E IMATERIAL LOCAL
Cleverson Schuengue
3/27/20253 min read


Etapa 1: Coleta de dados históricos e mapeamento inicial
Começamos com uma pesquisa exploratória, levantando referências em documentos públicos, reportagens antigas, livros e arquivos disponíveis no Acervo Municipal de Pinhais. Buscamos registros de construções emblemáticas, festas tradicionais, ofícios antigos, empresas marcantes (como a cerâmica Guilherme Weiss), e espaços que já não existem mais — como o antigo autódromo da cidade.
Esse levantamento inicial nos ajudou a traçar um mapa de bens culturais com potencial para inventário. Foi como abrir as primeiras janelas de uma casa que sabemos que é muito maior do que parece.
Etapa 2: Entrevistas com mestres de ofício e guardiões da memória
A alma do projeto está nas pessoas. Por isso, desenvolvemos um roteiro de entrevistas com base em princípios da pesquisa etnográfica. Conduzimos conversas abertas com mestres de ofício, artistas locais, representantes de escolas de samba, centros culturais, comunidades indígenas, capoeiristas e líderes comunitários.
As entrevistas foram todas gravadas, transcritas e catalogadas. Cada fala foi tratada com o respeito que merece: como um documento vivo de um saber tradicional. Muitas dessas histórias serão publicadas no blog da agência em matérias exclusivas, aprofundando temas como oralidade, resistência, identidade e memória.
Essas entrevistas revelaram histórias que não estão nos livros — mas estão nos olhos de quem viveu, nos gestos de quem aprendeu com os avós, nas canções que só se cantam nos fundos dos quintais ou nas rodas de celebração.
Etapa 3: Visitas de campo e observação direta
Entre janeiro e fevereiro de 2025, realizamos visitas aos locais citados nas entrevistas e no mapeamento inicial. Fotografamos, gravamos, observamos. A visita in loco permite compreender o espaço como parte do patrimônio, identificar características que só se percebe no contato direto: o estado de conservação, os usos atuais, os arredores, a relação da comunidade com aquele bem.
Essa etapa envolveu visitas a construções antigas, oficinas de arte, barracões de carnaval, ruas marcadas por manifestações populares e espaços desativados — onde a história ainda ecoa.
Etapa 4: Análise e diagnóstico
Após a coleta, iniciamos a fase de organização e interpretação dos dados. A análise é feita a partir dos seguintes critérios:
Relevância histórica e cultural do bem;
Estado de conservação;
Nível de ameaça ou risco de desaparecimento;
Nível de reconhecimento comunitário;
Potencial de reaplicação em políticas públicas de cultura.
A combinação das entrevistas, observações e pesquisa documental resultará em um relatório com recomendações práticas para a preservação e continuidade das tradições e bens culturais mapeados.
Etapa 5: Acessibilidade e compartilhamento dos resultados
Todo o material produzido será organizado em formatos acessíveis: textos com linguagem simples, compatibilidade com leitores de tela, imagens descritas e arquivos em múltiplos formatos (PDF, HTML, Word).
Além disso, vamos publicar os resultados de forma digital e gratuita, garantindo que qualquer pessoa — pesquisador, morador, artista ou gestor — possa acessar esse acervo.
Pesquisa com escuta, respeito e responsabilidade
Essa pesquisa não é sobre números. É sobre vidas, trajetórias, espaços e histórias que precisam ser reconhecidos e preservados. Optamos por uma abordagem qualitativa justamente para garantir que ninguém vire estatística fria. Aqui, cada bem catalogado é tratado como uma expressão legítima da cultura de Pinhais.
E mesmo com recursos limitados, estamos nos empenhando para fazer esse trabalho com a seriedade que ele exige — porque a memória de um povo não pode esperar.
📽️ Todas as entrevistas estão sendo gravadas e farão parte de uma série de matérias no blog da Agência Quintal Criativo, cada uma dedicada a um dos entrevistados ou temas descobertos na pesquisa.
📚 Leia também a matéria sobre a importância da preservação cultural:
👉 https://www.agenciaquintalcriativo.com.br/inventario-e-pesquisa-sobre-patrimonio-cultural-material-e-imaterial-local
Imagem em preto e branco tirada durante uma entrevista no barracão da escola de samba de Pinhais. À esquerda, está um homem jovem de bermuda clara e regata escura, sentado e sorrindo, com o polegar levantado em sinal de aprovação. À direita, um homem mais velho está sentado com apoio de bengala, olhando para a câmera com expressão serena. Ao fundo, há diversos troféus grandes e fantasias de carnaval armazenadas, evidenciando o contexto de uma trajetória cultural premiada. Na parte inferior da imagem, estão os logotipos da Política Nacional Aldir Blanc, Ministério da Cultura e Governo Federal.Escreva seu texto aqui...